sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mesmo com problemas, Enem se consolida como vestibular nacional


O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é, certamente, uma ótima política pública para indução de reformas no ensino médio e uma das mais justas e democráticas formas de distribuição de vagas no ensino superior público. Por isso, tem muitos adversários na sociedade. Adversários poderosos que, porém, não conseguiram prejudicar o Enem mais do que o Ministério da Educação (MEC) e o seu instituto de avaliações, o Inep.

Nos dois últimos anos, justamente o período em que o Enem começou a distribuir fartamente vagas em universidades públicas, a aplicação do exame foi um verdadeiro desastre. Em 2009, houve o vazamento da prova. Em 2010, inversão de gabarito, redações mal corrigidas e milhares de pessoas que, mesmo prejudicadas, não puderam fazer uma segunda prova.

Nesta situação, mesmo o Enem sendo bom para o País e para a democratização do acesso ao ensino superior, era de se esperar que as vagas distribuídas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) diminuíssem ou, pelo menos, se estabilizassem.

Não foi o que aconteceu. No primeiro semestre de 2010, eram cerca de 49 mil vagas distribuídas pelo Sisu, exclusivamente pela nota no Enem. No primeiro semestre de 2011, foram mais de 80 mil vagas nessa situação. No início de 2012, certamente teremos algo próximo de 100 mil vagas disponibilizadas no sistema de seleção, sem contar as universidades públicas que distribuem vagas usando a nota do Enem sem fazer adesão ao Sisu e as que usam a nota do Enem de forma parcial.

Como explicar esse aumento no número de adesões? A Universidade Federal de Viçosa (UFV) é um caso que ilustra bem os motivos que levam ao aumento no número de universidades que passam a adotar o Enem. No começo de 2011, o reitor da UFV assumiu um cargo no Ministério da Educação (a Secretaria de Ensino Superior). Não passaram cinco meses e esta universidade acabou com o seu vestibular e passou a selecionar 80% dos novos alunos só com a nota do exame. Os outros 20% entram pelo processo de avaliação seriada.

Nas demais universidades públicas as decisões se dão de forma semelhante. A gradativa ampliação de reitores que possuem história pessoal ligada ao atual governo federal e as políticas indutoras à adesão ao Enem são os fatores que garantem o aumento de vagas oferecidas nesta nova política pública.

E essa tendência deve se ampliar. Universidades como a Federal do Sergipe (UFS), Estadual do Piauí (UESPI), a Federal do Acre (UFAC), a Federal do Alagoas (UFAL) e a Federal de Uberlândia (UFU), entre outras, que antes de 2011 mantinham seu próprio vestibular, ou já aderiram ao Enem ou estão muito próximas disso. É fato consumado. Mesmo com problemas, o Enem se consolida como o nosso "vestibular nacional". Às escolas de ensino médio, como o MEC não adotou ação universal e apropriada para esclarecer como é, de fato, o Enem, fica a obrigação de conhecer melhor a avaliação e de reordenar suas grades, seus programas, seus currículos e seus projetos pedagógicos.